Saltar para o conteúdo

Hipermodernidade

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Hipermodernidade é o termo criado pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky para delimitar o momento atual da sociedade humana. O termo “hiper” é utilizado em referência a uma exacerbação dos valores criados na Modernidade, atualmente elevados de forma exponencial.

O termo Hipermodernidade como ideia de exacerbação da Modernidade surgiu em meados da década de 1970 e ganhou destaque em 2004 graças ao estudo de autores franceses e ao livro “Os tempos hipermodernos” de Lipovetsky com a colaboração de Sébastien Charles.

A Hipermodernidade não significa uma contestação da modernidade, pois apresenta características similares em relação aos seus princípios, como ênfase no progresso técnico científico, na valorização da razão humana e no individualismo. A modernidade foi conceptualizada como a superação dos setores modernos sobre os setores tradicionais,[1] por meio do progresso técnico, da industrialização e na valorização do indivíduo. Como assinala Sebastien Charles: “Hipermodernidade: uma sociedade liberal, caracterizada pelo movimento, pela fluidez, pela flexibilidade; indiferente como nunca antes se foi aos grandes princípios estruturantes da modernidade, que precisaram adaptar-se ao ritmo hipermoderno para não desaparecer”(Lipovetsky, 2004:26). Por outro lado, também não significa, uma Pós-modernidade ou o seu fim, conceito que surgiu no final dos anos 1970 e início dos anos 1980, para explicar as novas transformações sociais. O termo pós-moderno teve como mérito dar nome as grandes transformações ocorridas nas sociedades ditas como desenvolvidas, acentuando uma mudança de direção e reorganizando o funcionamento social e cultural das sociedades democráticas.

Do pós ao hiper

[editar | editar código-fonte]

Para Lipovetsky o termo Pós-Moderno tornou-se vago e não consegue exprimir o mundo atual, o pós de pós-moderno se referia ao passado como se este já estivesse morto, antes de afirmar o fim da modernidade, assiste-se ao seu arremate, que se concretiza no liberalismo globalizado, na mercantilização dos modos de vida e numa individualização galopante. Mas esta modernidade, que também é denominada de supermodernidade é integradora, a qual estamos saindo era negadora: não mais destruição do passado, e sim, sua integração com as lógicas modernas do mercado, do consumo e da individualidade. Ao definir o conceito de hipermodernidade, Lipovetsky propõem “superar a temática pós-moderna e reconceitualizar a organização temporal que se apresenta”. Sugere o termo hipermoderno, pois surge uma nova fase da modernidade, que foi do pós ao hiper: “a pós-modernidade não terá sido mais que um estágio de transição, um momento de curta duração.”(Lipovetsky, 2004:58).

A Hipermodernidade é caracterizada por uma cultura do excesso, do sempre mais. Todas as coisas se tornam intensas e urgentes. O movimento é uma constante e as mudanças ocorrem em um ritmo quase esquizofrênico determinando um tempo marcado pelo efêmero, no qual a flexibilidade e a fluidez aparecem como tentativas de acompanhar essa velocidade. Hipermercado, hiperconsumo,[2] hipertexto, hipercorpo: tudo é elevado à potência do mais, do maior. A hipermodernidade revela o paradoxo da sociedade contemporânea: a cultura do excesso e da moderação.[3]

Tempo e tradição na sociedade hipermoderna

[editar | editar código-fonte]

A obsessão moderna com o tempo se apossou de todos os aspectos da vida e não mais se restringindo a esfera do trabalho, segundo Lipovetsky: “A sociedade hipermoderna se apresenta como a sociedade em que o tempo é cada vez mais vivido como preocupação maior, a sociedade em que se exerce e se generaliza uma pressão temporal crescente” (Lipovetsky, 2004:75). Não ficamos mais presos ao passado e nem ao futuro, pois o presente amplia o seu domínio e ambos adquirem nova relevância. O futuro também adquire novos contornos, se revela menos romântico e mais revolucionário utilizando da sobrepotência técnico científico para transformar o porvir. Os riscos ambientais, a preocupação com o planeta assumem lugar de destaque no debate coletivo. Na hipermodernidade o tempo é acelerado, se rarefaz, é o reinado da urgência, as agendas estão lotadas, o tempo extrapola o mundo do trabalho. Mas também, por outro lado, surgem as construções mais personalizadas dos usos do tempo: um poder maior de organização individual da vida.

Na redescoberta do passado, surge a valorização da memória, das tradições religiosas, das identidades étnicas, enfim, “do revivescimento do passado”. Antes, os modernos queriam se ver livres das tradições, na hipermodernidade a tradição readquire dignidade social. "O que define a hipermodernidade não é exclusivamente a autocrítica dos saberes e das instituições modernas; é também a memória revisitada, a remobilização das crenças tradicionais, a hibridização individualista do passado e do presente. Não mais apenas a desconstrução das tradições, mas o reemprego dela sem imposição institucional, o eterno rearranjar dela conforme o princípio da soberania indiviudal"(Lipovetsky, 2004:98). A valorização do passado é um fenômeno mais hipermoderno que pós-moderno: museus, obsessão comemorativa, preservação do patrimônio, democratização do turismo, valorização do “legítimo ou autêntico”. Na sociedade hipermoderna, o modelo de mercado e seus critérios operacionais conseguiram entrar até na conservação do patrimônio histórico, vemos o surgimento do capitalismo cultural e da mercantilização da cultura.[3][4]

No artigo "Uma modernidade-outra ou o hipermoderno", Samuel Mateus (2010) sublinha o facto da hipermodernidade "se descrever, não tanto como uma revolta contra a modernidade, mas sobretudo como uma adaptação crítica muito aguda ao próprio desenvolvimento da modernidade. Ela não é “simples modernidade” apresentando-se, antes, como um acto moderno superlativo de (re)fundação. Ela não possui uma índole “contra-moderna” colocando-se como um seu prolongamento agudo. A hipermodernidade não nasce por geração espontânea sendo inerente à própria experiência moderna. Nasce da tentativa de renovação do projecto de modernidade, mas sobretudo, dos desafios que esse projecto lança na contemporaneidade"[5]

ALEXANDER, Jeffrey. Modern, ante, post, and neo: how intellectuals have coded, narrated, and explained the “crisis of our times”. In: Jeffrey Alexander. Fin-de-siècle social theory: relativism, reduction, and the problem of reason. London/New York: Verso, 1995, pp. 07–64.

BORILE, G. O.; GARDELIN, L. D. ; CALGARO, C. . O hiperconsumo na modernidade e os danos ao meio ambiente: as perspectivas da democracia participativa para a solução do impasses socioambientais. In: CALGARO, C; PEREIRA, A. O. K.; NOLL, P. (Orgs.). (2016) Novos direitos, socioambientalismo e desenvolvimento na sociedade moderna hiperconsumista. Caxias do Sul, RS: EDUCS.

LIPOVETSKY, Gilles (2004). Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla.

PEEMANS, Jean-Philippe. La dimension "population" dans les débats, théories et processus de développement depuis les années 1950. In: Transitons démographiques et sociétés. Chaire Quetelet, 1992. Institut de Démographie, Université Catholique de Louvain, Louvain-la-Neuve: Académia/L'Harmattan, 1995, p. 71-107.

SCHOUMACHER, Florent, Eidolon: simulacre et hypermodernité, Paris, Balland, 2024.

Referências

  1. PEEMANS, Jean-Philippe. La dimension "population" dans les débats, théories et processus de développement depuis les années 1950. In: Transitons démographiques et sociétés. Chaire Quetelet, 1992. Institut de Démographie, Université Catholique de Louvain, Louvain-la-Neuve: Académia/L'Harmattan, 1995, p. 71-107.
  2. BORILE, G. O.; GARDELIN, L. D. ; CALGARO, C. . O hiperconsumo na modernidade e os danos ao meio ambiente: as perspectivas da democracia participativa para a solução do impasses socioambientais. In: CALGARO, C; PEREIRA, A. O. K.; NOLL, P. (Orgs.). (2016) Novos direitos, socioambientalismo e desenvolvimento na sociedade moderna hiperconsumista. Caxias do Sul, RS: EDUCS, 2016.
  3. a b LIPOVETSKY, Gilles (2004). Os tempos hipermodernos. São Paulo: Barcarolla.
  4. ALEXANDER, Jeffrey. Modern, ante, post, and neo: how intellectuals have coded, narrated, and explained the “crisis of our times”. In: Jeffrey Alexander. Fin-de-siècle social theory: relativism, reduction, and the problem of reason. London/New York: Verso, 1995, pp. 07-64.
  5. “Uma Modernidade Outra ou o Hiper-Moderno”, Revista Comunicação e Sociedade nº18 2010, pp.133-145 https://www.academia.edu/3248822/Uma_modernidade-outra_ou_o_hipermoderno
pFad - Phonifier reborn

Pfad - The Proxy pFad of © 2024 Garber Painting. All rights reserved.

Note: This service is not intended for secure transactions such as banking, social media, email, or purchasing. Use at your own risk. We assume no liability whatsoever for broken pages.


Alternative Proxies:

Alternative Proxy

pFad Proxy

pFad v3 Proxy

pFad v4 Proxy